Data: 07/09/2019 07:55:12 - Visualizacoes: 395

Justiça veta censura homofóbica de Crivella na Bienal do Livro do Rio

Uma cena inédita na história da Bienal do Livro do Rio de Janeiro surpreendeu editores e provocou uma reação em massa contra a tentativa de censura no Brasil: um grupo de fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública percorreu, no início da tarde desta sexta, os estandes do evento para recolher livros com temas ligados à homossexualidade. Eram liderados pelo coronel Wolney Dias, ex-comandante da Polícia Militar e atual subsecretário de operações da Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio. E estavam ali por determinação do prefeito Marcelo Crivella, que havia visitado o evento um dia antes e se escandalizou com o romance gráfico da Marvel Vingadores, a cruzada das crianças. A obra contém a história do casal Wiccano e Hulkling. Em uma das páginas, eles se beijam. São homens. O prefeito, evangélico conservador, considerou a cena inapropriada e determinou que a obra fosse retirada das prateleiras, mas a organização recusou —e, mais tarde, a Justiça proibiu. Os livros, no entanto, desapareceram em poucas horas. Assim que a polêmica ganhou as redes, todos os exemplares que estavam disponíveis foram comprados. 

"Livros assim precisam estar embalados em plástico preto lacrado e do lado de fora avisando o conteúdo", afirmou Crivella, em um vídeo publicado em seu Twitter. O prefeito argumentou a necessidade de "proteger as crianças" para que elas não tenham "acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades". As declarações do político, somadas à atuação dos fiscais, geraram um levante em massa de livreiros e editoras, que consideraram o ato uma grave ameaça para a liberdade de expressão. "Isso nunca havia acontecido na Bienal", disse com perplexidade ao EL PAÍS Flávio Moura,  editor da Todavia, que participa da Bienal. "Não há eufemismo pro que aconteceu. É uma tentativa horrorosa de censura", completa.

Os fiscais chegaram ao Riocentro, local onde acontece o evento, por volta de meio dia. Tinham a tarefa de buscar materiais "com cenas impróprias a crianças e adolescentes" de forma aleatória nos estandes. Deveriam recolher as publicações que não estivessem de acordo com a exigência do artigo 78 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz: "as revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo". De acordo com a secretaria, se enquadrariam neste artigo materiais "pornográficos" ou "obscenos". Não encontraram nada "além de muitos livros", como disse o próprio coronel que liderou a fiscalização.

Fonte: EL PAIS

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